5.7.08

O Velho Trem Fantasma

De vez em quando vou para os fundos do pátio e fico sentado observando aquelas coisinhas piscando lá em cima e esperando o som. Sempre no mesmo horário, sempre no meio da noite. Acendo um cigarro e olho em volta, o lugar é cercado por muitas árvores e campos e tudo fica longe de tudo e nas noites de verão os insetos zunem como loucos.Lembro da bruxa velha que mora no fim da rua – e caralho, as ruas aqui são longas como um rabo de dragão -, entranhada numa casa centenária de tábuas desbotadas e cheias de musgos que expiram umidade pelos poros. Foi quando ela me falou, enrugada como uma uva seca sobre os insetos. De presente me deu um pote de cataria, uma espécie de inseto que triturado é tido como afrodisíaco e todas as mulheres que enlouqueceram quando misturei o pó em suas bebidas e as noites foram longas.Então meus pensamentos são cortados pelo som do velho trem que eu tanto aguardava. Parece um trem fantasma, gosto de ouvi-lo rasgando a noite e rugindo. Sempre aquele som, aquele trem de carga que vai não sei para onde. Continuo ouvindo o trem fantasma que passa como se tocasse uma melodia perdida no tempo. Um trem fantasma que rasga a noite, imperturbável como um monstro cansado. Eu aguço os ouvidos apenas para ouvi-lo rugir.

Nenhum comentário: