5.7.08

A mulher do Calendário

Em uma das mesas dois homens bebiam Coca-Cola com cachaça. No balcão outros homens bebiam suas cervejas e fumavam e olhavam para as paredes, para o vazio ou para sei lá o quê eles estavam vendo com aqueles olhares perdidos. A noite estava clara como nunca e milhares de estrelas piscavam e alguns caminhões passavam zunindo e seus faróis pareciam estrelas nas estradas como as que piscava no céu.Martin entrou e olhou para a folha de calendário pregada na parede com a foto estampada de uma bela mulher seminua, seios fartos à mostra e olhos num azul claro que prometia o paraíso. Então ele sentou ao lado de um dos homens no balcão e não deu importância para ele. Martin estava se lixando para o cara.Seu Chevy estacionado lá fora parecia um carro fantasma abandonado. Martin pediu uma cerveja e um maço de cigarros. Aguardou com um vago olhar para a foto no calendário. O homem ao lado olhou para ele e para o calendário que estampava a foto da mulher de olhos azuis.Deu um sorriso e disse: “Com uma dessas eu foderia a noite inteira”, Martin não ligou. E o cara fechou-se numa carranca. Martin bebeu um gole de sua cerveja e lembrou da garota e dos seus peitos e de seus olhos e de tudo mais. Dela sorrindo enquanto preparava o jantar, sem antes perguntar se ele desejava batatas-fritas e ele sempre respondia que sim e ela acabava sorrindo novamente. Martin lembrou de como ela dormia e das noites que passavam em claro e dos quartos escondidos e das luzes pardas e das pessoas circulando lá fora sem saberem de nada.Martin acendeu um cigarro e tragou e bebeu um novo gole de cerveja. Achou que a cerveja estava muito boa e teve uma agradável sensação com aquilo. Tornou a olhar para o calendário e para a foto da mulher seminua e lembrou dos dois juntos e num suspiro surdo conformou-se em vê-la partindo em um daqueles caminhões que tinha faróis que pareciam estrelas na estrada.

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