5.7.08

Eu Tinha Que Realmente Estar Lá?

Ela estava usando uma saia de seda roxa. Muito bonita e, caralho... Eu tinha que realmente estar lá, justamente naquele momento? Ela simplesmente abaixava-se e pegava algum livro. Tinha uma porção deles por lá, queimados e espalhados por toda parte. E ela vasculhava entre os destroços tentando recuperar algum. A velha casa tornou-se uma Bagdá em escombros, Estanlingrado, Berlim. Nada além de cinzas, destroços e desespero.Ela tentava salvar alguma coisa e com as mãos sujas mantinha o semblante sério e compenetrado. Ouvi um profundo gemido vindo do fundo de sua caixa torácica e senti todo aquele tremor e tristeza percorrer seu corpo. Disseram que o incêndio foi rápido como uma lufada de vento e num fechar e abrir de olhos a casa tinha se transformado em uma gigantesca bola flamejante, e tudo foi sendo engolido por ela.Ao vê-la me aproximei como se seu corpo fosse um ímã que atraía meu corpo de ferro, e sendo assim, nada eu poderia fazer senão me deixar levar. Percebi suas mãos queimadas que seguravam um livro ou o quê sobrou dele. Do outro lado da rua dois homens com roupas e capacetes vermelhos conversavam ao lado de um caminhão também vermelho. Um grupo de meninos olhavam excitados e donas de casa tagarelavam sem parar dizendo algo sobre um botijão de gás que era uma verdadeira bomba e o estrondo que deu.Ninguém ali parecia muito interessado naquela garota que vestia uma saia de seda roxa e catava os restos entre os escombros. Nem em suas mãos queimadas, nem em seu corpo de ímã que atraía o meu corpo de ferro.

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