25.6.08

O sorriso de Ernest

Era uma cidadezinha muito triste, perdida no meio do nada, rodeada por pedras e arbustos. Tinha apenas um bar e os homens se reuniam, especialmente nas noites de sexta-feira.O velho Ernest gostava de ir beber e fumar seu charuto sem dar muito papo para ninguém. Certa noite Ernest não apareceu. Todos estranharam sua ausência. Mesmo não sendo muito de conversa, Ernest fazia parte daquilo. Do bar, das noites de sexta-feira e da solidão do lugar.A noite ia quente e pegajosa, arrastando-se madrugada a dentro e o assunto não era outro senão a ausência de Ernest.Então, no meio da madrugada Ernest entrou porta a dentro. Todos pararam de beber, fingiram não ligarem ao vê-lo entrar, mas o silêncio reinou no lugar. Ernest trazia consigo uma mulatinha. Uma pequena e jovem e macia mulatinha. Aparentava não mais que quinze, talvez dezesseis anos de idade.Ernest entrou silencioso e procurou seu canto no bar. A mulatinha seguia ao seu lado. Ernest segurava sua pequena mão. Ela desfilou tímida até a mesa, o corpo desenhado e fresco. Usava uma velha calça de jeans que marcava sua bela bunda. Os homens olhavam enquanto os dois sentaram. Ernest ignorou à todos e sorriu para a mulatinha depois de sentarem.- Quer uma cerveja, boneca? - perguntou Ernest com uma leveza que deixou todos espantados. Ernest era um homem rude de aparência, mãos grossas e calejadas, de pouquíssimo sorriso.A mulatinha sorriu tímida. Um sorriso de anjo e ao mesmo tempo sensual. Era muito bonita, os dentes muito brancos e lindos.- Sim. Vou querer.Ernest chamou o velho garçom.- Traga uma cerveja para nós. Bem gelada, que queremos matar a sede.- Mais alguma coisa? - perguntou o garçom sem conseguir disfarçar os olhares gulosos para a mulatinha.- Traga também algumas batatas fritas. Minha garotinha de deve estar com fome.O garçom olhou para ela. A mulatinha acendia um cigarro.- Você não deve fumar, neném - disse Ernest.- Ora, Ernest. Você me conheceu fumando e fumando continuarei.Ernest sorriu.- Está bem, querida.O garçom trouxe a cerveja e as batatas fritas. Os dois beberam e comeram com vontade. A mulatinha atraía a todos. Era muito sensual. Tinha volúpia nos olhos. O decote mostrava a pele linda e morena, brilhava. Tinha os seios médios e os bicos marcavam a blusa verde colada ao corpo.Ficaram todos imaginando e se perguntando de onde Ernest havia conseguido aquela garota. Invejavam, mas falavam uns aos outros que Ernest estava ficando louco. Uma aparecer com uma garota com não mais que dezesseis anos de idade. E vestida daquela maneira, com aquelas roupas que mais parecia de uma prostituta de estrada. Aquelas roupas coladas ao corpo. Mostrando os peitos, fumando e bebendo ali no bar dos homens.Ernest não estava respeitando a memória de sua falecida mulher. Fazia mais de dez anos que ela morrera e desde então Ernest vivera solitário. Trabalhando como um burro de carga, um desgraçado. Sorrindo muito pouco e voltando para casa sozinho depois de beber no bar todas sextas-feiras.Ernest percebeu os olhares, os cochichos, tudo. Percebeu os olhares de reprovação, e também os de desejo sobre sua mulatinha. Ernest pegou mais algumas cervejas, comprou cigarros e mais comida. Pagou tudo e foi-se embora com sua mulatinha Ao saírem do bar de mãos dadas, Ernest olhou as estrelas naquela noite quente. Ele mal continha o sorriso no rosto.

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